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Uma visão estratégica (# 184)

02.jul.2018

E os problemas da saúde são suficientemente importantes para que este diálogo entre MCV (Medicinas de Costas Voltadas) se estabeleça e possa garantir um futuro para saúde com cores mais luminosas do que os tons cinzentos que marcam os corredores dos atuais hospitais.

Imagine-se o futuro, 2028, Lisboa, Portugal.

Se um dia alguém perguntar por mim

Diz que vivi para te amar

Estamos num longo corredor ladeado de janelas com vista para um jardim profusamente arborizado.

Será Primavera e ao longe há sons da comemoração dos 54 anos do 25 de Abril. Nos corredores, ouve-se música ambiente: um velho sucesso de 2017 que venceu a Eurovisão: “Amar pelos dois” de Salvador Sobral.

 

Antes de ti, só existi

Cansado e sem nada para dar

Passa apressadamente uma enfermeira: estamos no corredor de um Hospital, recentemente remodelado. Agora há música ambiente nos estabelecimentos de saúde. Terá sido neste Hospital que há dez anos atrás o intérprete desta canção recebeu um coração novo.

Meu bem, ouve as minhas preces

Peço que regresses, que me voltes a querer

Ao longo do corredor estão situados os gabinetes de acupunctura do hospital. A MRC (Medicina de Raiz Chinesa) deixou de levantar a polémica dos anos anteriores. Agora, a par da MRE (Medicina de Raiz Europeia) a acupunctura, a FRC (Fitoterapia de Raiz Chinesa) faz parte do quotidiano de alguns hospitais portugueses. Não todos, que as resistências estão sempre presentes neste país cauteloso e conservador.

No piso abaixo há gabinetes de Osteopatia e Quiroprática, bem como consultas de Naturopatia e FRE – (Fitoterapia de Raiz Europeia).

Eu sei que não se ama sozinho

Talvez, devagarinho, possas voltar a aprender

O caso da integração da Medicina Chinesa na saúde em Portugal foi paradigmático e todos os meses há visitas de técnicos de todo o mundo para observar neste hospital aquilo que muitos consideravam impossível.

Passo a passo percebeu-se que uma parte significativa da MRCdescrevia os mais diversos processos do corpo humano, a par da MRE. Fígado, Coração, Baço e Pâncreas, Pulmões e Rins estão no centro do funcionamento do corpo humano, mas segundo uma perspetiva diferente da MREuropeia. A visão estratégica do paradigma da MRCpermite complementar de forma surpreendente as lacunas do modelo de raiz europeia. Após vários CEM – (Congressos de Encontro de Medicinas) um novo mapa se foi definindo: como um nevoeiro que se dissipa, foi ficando claro as áreas em que cada uma das velhas Terapêutica Não Convencionais (já ninguém usa esta expressão em 2028) poderiam intervir sem se atropelarem.

A visão da MRCcomporta aspetos não comtemplados pela tradição médica da Europa. Aí foi feito um importante investimento em investigação científica, liderado pela China e pela Alemanha, esta última na área da Naturopatia e da Homeopatia. Mas há áreas ainda polémicas onde a cautela exige um constante diálogo entre as várias visões médicas.

Nos Centros de Saúde as TNC’s vão se gradualmente implementando trazendo um outro significado mais profundo à palavra “profilaxia”.

Ao fundo deste corredor há duas fotografias envelhecidas: são dos dois ministros que a História considera responsáveis pela gradual introdução no NSNS (Novo Serviço Nacional de Saúde) das velhas TNC que agora são quase convencionais.

Meu bem, ouve as minhas preces

Peço que regresses, que me voltes a querer

Continuamos a ouvir as notas musicais da canção dos irmãos Sobral. Mas agora acordamos para o presente e estamos em 2018. 44ª aniversário do 25 de Abril. Varoufakis marcha pela Avenida da Liberdade a recordar os tempos da troika em Portugal e na Grécia. No parlamento português cinco partidos suportam o governo do Partido Socialista. Os indicadores económicos trazem de novo a esperança aos portugueses. Mas a Saúde continua a revelar fragilidades tremendas. Fala-se em mais de uma legislatura para recuperar e ver surgir um verdadeiro Novo Serviço Nacional de Saúde, cujos contornos exatos ainda ninguém conhece.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) dá conta de um conjunto grave de problemas a nível da Europa e do Mundo: as NCD’s (Non Communicable Diseases): Doenças Cardiovasculares, Oncológicas, Respiratórias Crónicas, Diabetes, Quadros Depressivos, Dependências do Álcool e do Tabaco. Portugal não foge à regra.

Qual o papel ou qual a contribuição da MRC e das restantes TNC’s para o atenuar destes problemas crónicos de saúde?

Eu sei que não se ama sozinho

Talvez, devagarinho, possas voltar a aprender

A democracia que se comemora a 25 de Abril, não se esgota nos processos político-partidários que pontuam a agenda quotidiana.

A essência da democracia, assenta no diálogo entre quem se encontra em lados diferentes, com pontos de vista divergentes e aparentemente inconciliáveis. Mas é este mesmo diálogo que permite encontrar novas soluções para problemas velhos e novos.

E os problemas da saúde são suficientemente importantes para que este diálogo entre as MCV (Medicinas de Costas Voltadas) se estabeleça e possa garantir um futuro para a saúde com cores mais luminosas do que os tons cinzentos que marcam os corredores dos atuais hospitais.

Mesmo aqueles que são ladeados de janelas com vista para qualquer jardim de esperança.

Se o teu coração não quiser ceder

Não sentir paixão, não quiser sofrer

Sem fazer planos do que virá depois

O meu coração pode amar pelos dois

(autoria: Luísa Sobral)

 

Glossário

MRE – Medicina de Raiz Europeia

MRC – Medicina de Raiz Chinesa

FRC – Fitoterapia de Raiz Chinesa

FRE - Fitoterapia de Raiz Europeia

TNC – Terapêuticas Não Convencionais

MCV – Medicinas de Costas Viradas

© Eduardo Rui Alves

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